23 de setembro de 2010

Riscar o que (não) Interessa

Exaustão em demasia. Letargia do silêncio, corpos em matéria condensável.
O aporte sincrético do libidinoso cais da ancoragem dos sonhos. Linguagem
que confunde as estrelas e as luas novas. Guerras e inquietações no soslaio
da manhã amante dos búzios. As perguntas que não me fazes são a insónia
do caminho alcandorado na paixão alucinada. Sou um contumaz exegeta da
beatitude mais execrável dos sentidos. Mordo a asfixia lúbrica no pranto em
que te encontras. Afago a tua voz num perpétuo beijo arguto e melodioso.

Agora ris da tua angústia quebrada no gelo da esteira embriagada e capciosa.
Tantos sinónimos em dicionários sem fim. Vou alinhá-los na soleira da tua
porta de ébano maciço, essa casa dos perpétuos movimentos expressionistas.
No chão de veludo, os berlindes e as fotos das chuvas de aluvião. Matéria
sacra nos rizomas dos particípios do passado. Entre o som e a fúria, a tua
sagaz e metonímica assumpção à esfera dos idílicos píncaros da felicidade.
Só me resta riscar a traço grosso o giz nas ruas em palavras de amor sem fim.

20 de setembro de 2010

Flor Carnívora

E na estação dos carvalhos chovendo ouriços, há uma estrada para o teu horizonte, agora frio e desnudo, depois do verão dos abraços e utopias. Despediste-te de mim com um suave beijo na espuma das horas eufóricas e temperamentais. Mas não v...ou, não saio daqui enquanto não encontrar a esperança insone dos percursos da imaginação. Uso o teu cabelo como poema na eira dos lobos mais reservados da serra. Só desfaço o teu olhar no prumo dos graníticos cais das melopeias sem fim. Termino a serena aragem dos sonhadores da vida em abraços arrepiados de frio e temor. Qual flor carnívora, cai um silabário de emoções na tua boca prenhe de amor.

19 de setembro de 2010

Sem Perdão

Perdi o controlo. Na escada mais íngreme da loucura deixei-me arrastar rumo ao
finito campo onde o solo é a minha morada. Desci à terra dos errantes e dos fiéis
funâmbulos da pequenez. Estatelei-me ao comprido na sageza dos actos simples.
Errei e claudico nas ruas amargurantes sem ti, lua feérica. Perambulo sem sentido
enquanto não tiver esperança no olhar. Da demência das palavras gordas de luz
e euforia, fica-me a latejar a abundância de estultícia no meu rosto pejado de fealdade.

Falhei em toda a linha do horizonte. Sem retorno esta vida dos silêncios. A casa ficou
abafada de tanta energia gasta na minha mediocridade. O mundo da provocação é tão
cruel e vingativo. Acabo sempre por sucumbir e ficar preso nas suas armadilhas mais
banais. Falta-me o tino e o tacto para acordar de vez da letargia da infâmia que me
corrompe os sentidos mais secretos. Há tanto amor para dar, mas o que se solta é
sempre o oposto, numa inverosímil e farsante vida. É neste paradoxo que caminho
para o topo das escadas, mas acabo invariavelmente e sem glória por cair de novo.

Para quando a aprendizagem e o crescimento? Para quando a morte ou o castigo
divino, para desaparecer toda a maldade do mundo? Por agora, olhos férteis de
lágrimas e suspiros, inquieta alma no sopé dos afectos, corpo em carne viva no
monte mais desabrigado e solitário possível, esconjuro à minha alma adoentada e
em esboroar contínuo para o pó do esquecimento. Da vida feliz e sossegada não reza
esta história, feita de um ingénuo e tonto canto à chuva na fraga mais escura e
plúmbea possível, prisão em surdina dos seres que habitam no mais frágil de mim.

9 de setembro de 2010

Percursos ConSentidos

O olhar em surdina. Cacos e berlindes na efígie ancestral do mausoléu sagrado.
Na civitas, uma figura intrépida. Sempre a observar-nos, nos nossos denodados
passos. Apesar do frio e da fome, calcorreámos essas ruínas abandonadas.
Sem medo, cirandámos pela bolina da noite. Nesse mar de apertos e de fugas,
uma árvore, no fojo dos amantes. Encontramos o trilho da vida e seguimos viagem.

O canto de um cisne em redor dos silvos lancinantes de uma víbora do campo.
Fugir dali a toda a brida, de mãos dadas e com os sentidos bem alerta. Agora
o medo estava em nós. Depois de muito corrermos, chegámos à beira de um lago.
Pausa para refrescar e acalmar de tanta adrenalina gasta. Sorver a água do mundo,
falar e rir das aventuras, quais príncipes encantados. Uma bifurcação para avançar.

Tactear por entre as pedras no crepúsculo. Ouvir os nossos passos por entre a calçada
romana. Sorver umas bagas pelo caminho do futuro. Amar e beijar nos entreactos.
Sem mais temores, a conversa afável, a lua cheia de esperança no teu olhar. E os
odores das ervas aromáticas, dos nossos corpos, com o apoio da beneplácita natura.
Sabemos ambos que agora o caminho faz-se caminhando. Não olhámos mais para trás!

5 de setembro de 2010

Doce Mar

Dançar no silêncio da noite. Musa obscura e secreta, que com o vagar das horas
solta a bonomia do olhar. Pulas e deitas-te na caruma dos corpos consagrados,
malha translúcida sob o luar inerme. O canto que ecoas pelo vale fala das eiras
e dos pássaros. No frémito da exaustão, corres louca pela sala de espelhos que
te mira pela primeira vez. No raiar dos salubres corpos, há árvores que vos
encontram e ambos bailam pela última vez uma mazurca bem aconchegada.

O vento do Sul trouxe chuva aos animais e aos pastos em derredor, lamacento
cheiro suave do teu rosto, carcomidas pedras no caminho dos deuses terrenos,
saias rodadas no acre do denso nevoeiro nas cabeças dos mortais. Por agora,
um trago suave de um beijo e um tilintar de copos na margem das dúvidas.
Socorro-me dos mapas e das páginas gastas dos jornais do passado. Neles,
guardo as castanhas assadas no lume dos afectos e ofereço-tas a ti, mar doce.

1 de setembro de 2010

Físico-Química dos Sentidos

Limite zero na bonomia dos dias. Têmpera dura e fugaz na diametral lógica do mundo.
Arritmias na evasão melíflua dos amores. Copiosa chuva a sete chaves guardada.
Ritmos na sageza do luar insone. Cândida a tua mão no livro aberto da saudade.
Antídoto eficaz do veneno circunspecto. Treme a terra em suspiros magnéticos.

Na química dos materiais orgânicos, há ainda muitas experiências por realizar.
Da Física quântica, apenas sei dos sinais e das probabilidades da fusão cinética.

Música para os teus ouvidos de tísica, velho andrajoso e de cútis servil.
Em uníssono, uma valsa dos sentidos, cravos e violinos em demanda azul.
Transístores em polifonias do silêncio, as pilhas para gastar em energia sem fim.
Altifalantes no palco em estádios de memória sináptica, chamam por ti, faladora do ar.