26 de maio de 2008

Alkantara Festival 2008

"No início do século XIX, Hegel argumentou que a história humana se desenvolvia em sentido crescente, criando sociedades cada vez mais sofisticadas, equilibradas e justas. Há 15 anos atrás, o politólogo americano Francis Fukuyama concluiu que a humanidade tinha finalmente chegado ao fim desta história e alcançado a organização ideal: um sistema bicéfalo de democracia liberal e capitalismo global. Duas décadas depois, esta esperança algo ingénua tornou-se um fracasso óbvio. As diligências da administração Bush para exportar a ‘sua’ democracia, deram no que está à vista: guerra, intolerância, desprezo pelo direito internacional. A globalização do capitalismo correu bastante melhor, mas os resultados também são conhecidos: uma fossa crescente entre ricos e pobres, uma catástrofe ecológica à escala mundial e a supremacia da ganância e do consumismo.

Numa coisa Fukuyama tinha razão: a falta de alternativas credíveis é estrondosa. Para manter o nosso nível de vida, diz-se, a economia precisa de crescer e para isso acontecer, os nossos governos e as nossas empresas têm de primar no jogo dos mercados. Hoje em dia, o raciocínio é tão impregnado que até parece uma lei da natureza. Não é de estranhar, dizem os pensadores da biopolítica: a sofisticação da nossa sociedade de consumo é tal, que os indivíduos interiorizaram a sua própria opressão. Se produzir e consumir estão intimamente interligados (a produção alimenta o consumo e o consumo sustenta a produção), formando a base da nossa prosperidade, nada é mais importante do que formatar o indivíduo enquanto produtor/consumidor. O primeiro objectivo da política tornou-se o controlo e a gestão da população, do bios, da vida de cada um de nós. E nós assim o queremos, porque nenhum preço parece alto demais para a segurança e a prosperidade, nada parece mais importante do que salvaguardar e aumentar a capacidade individual de consumir. Instalou-se a sensação de que a nossa liberdade coincide com o nosso poder de compra.

Em tempos de pensamento único precisamos de vozes dissonantes. Quando a vida parece afunilar-se num consumismo frenético, precisamos de descobrir outras vias. Já não há ninguém que ouse sugerir que a arte pode salvar o mundo, mas contra todas as tendências de massificação e entretenimento (pois, a arte também se tornou num produto de consumo), há quem continue a ver e praticá-la como forma de resistência. Como uma tentativa de visitar os mundos que se escondem atrás do mundo aparente. Como uma maneira de questionar o que é geralmente aceite, facilmente absorvido ou simplesmente cómodo."

Mark Deputter /programador cultural e director do Festival Alkantara
/texto completo aqui
/spot do festival (youtube)

23 de maio de 2008

Festival PANOS em Viseu

Este Fim-de-Semana no Teatro Viriato, em Viseu, poderão assistir aos espectáculos do Festival PANOS, uma organização da Culturgest, em que o objectivo é trabalhar textos contemporâneos com jovens actores até aos 18 anos, porvenientes de escolas secundárias e grupos de teatro. Assim, não percam um fim-de-semana recheado de bom teatro feito por jovens. Como curiosidade, a Escola de Teatro da Companhia Arte Viva do Barreiro (da qual faço parte), foi selecionada. Um grande abraço e vemo-nos este fim-de-semana em Viseu. Espero por vós!

15 de maio de 2008

A Tríade C(h)ega

Chega de brandos costumes e um naufrágio
no alto mar. Portentosa espécie de refúgio
inadiável dos oceanos, a barcarola fumegante
é uma transitória ave de rapina que se esconde
no pescoço do gato mais bravio e selvagem.

Chega de rumores e de vielas esconssas no
infortúnio das marés. No palácio da miragem,
há bairros de lata e carvão nas tuas mãos. Um só
braço é suficiente para deambulares pelas ilhas.
Roupa suja e rasgada no teu inocente ar primaveril.

Chega de fados e futebóis em tascas burlescas e a
álcool regadas. Na família dos nossos dias, há mais
orações que marinheiros e nem só de pão vive o
homem, já que Fátima é um campo minado de
alarvidades e histórias para contar aos netos.

2 de maio de 2008

De Volta aos Trilhos do Douro Inter-Nacional

E nos silêncios de Maio? Que ventos sopram por aí?
Há redes de pesca nos teus abraços e um planalto
por desbravar. Medíocres lâmpadas no teu ouvido
e um estertor de medo na paisagem árida. Estou,
se quiserem ver, na arriba de um Douro Internacional.
É segredo, porque uma paisagem deslumbrante merece
calma, vazio, contemplação. Depois de Bragança e as
suas muralhas históricas, com a sua torre de menagem
a vislumbrar-se lá do alto, rumei para Freixo, que dizem
ainda tem a sua Espada à Cinta deixada pelo Rei Dinis
de seu nome. Nessas arribas há tanto para contemplar,
que o melhor é não dar imagens. É descobrir senhores!
O resto é conversa plácida com os Freixenenses, com a praia
da Congida, com as memórias de um nascer do sol deslumbrante.
E o marulhar do Douro ainda solitário e alvo, só com as vinhas,
as amendoeiras, as oliveiras, e alguns barcos que se atravessam
no caminho dos sonhos e das utopias. Chega de paisagem fiada!
Quero um percurso de amor e mar nesta esquina do mundo!