30 de setembro de 2007

Bacalhau à Braga!

Porque hoje é domingo, dia do Senhor e da Senhora, um carinho especial pela cidade dos Arcebispos, dos poetas e cantores. Um abraço especial aos Mão Morta e ao Durães, tudo boa gente! Ora cá vai uma "modinha de Braga":
"Até Cair", do 1º àlbum (homónimo) dos Mão Morta
Seduzido pelo rodopio Embriagado de vertigem Os néons ferindo como gritos
Deixo-me possuir pelo frémito da multidão Num desejo de girar sem parar
Até cair... Até cair...
Tudo são sombras difusas Incertezas, especulações sem sentido... (Uma mulher disforme e cara esborratada, insiste para que lhe apalpe os seios flácidos)
Quero mais é o rodopio A lascívia sem fim deste carrocel atroz
Letra: Adolfo Luxúria Canibal/Música: Carlos Fortes

29 de setembro de 2007

Fuga à Ditadura dos Dias!

Criteriosa escolha. A nuvem pesarosa do desassossego penetrou na minha casa. Pintado de fresco estava a frase: "Os dias do silêncio são maiores que a euforia". Numa vertiginosa corrida, tentei libertar-me dos fantasmas que conspurcam a memória, restos mortais in loco, nauseabundos fetos no lodaçal das paixões. Partiste-me! Destroçaste o sangue incestuoso da carne pútrida, pálida aparição de almas enclausuradas. Pórticos, saídas de emergência e um copo a estilhaçar no meio da praça. Estamos chegados à calvície do problema, crostas encrespadas de um odor matinal. Preserverança na morte, dizia o ditador, olhos esquálidos e um frenesi de fogo. -É queimar, é queimar!!! Essa gente indigente, essa nata inteligente que nos atormenta!
Este é um estado minado de medo e são os militares a sua maior prole. Vozes impertigadas no arroto gutural do chefe-supremo-maior-de-todas-as-coisas. Deus sou eu, feito carne e sexo!!! Sexo e fome, mulheres ao desvario e seca monumental! Aqui só há um herói: - a chuva!
E eu, claro, como mestre das tentações! Por cada crime, uma mão cortada! Para acabar com a fome!!! Dêem de comer aos cães!!! Ao que de seguida ria alarvemente.
No fim de tanto escutar, precisei de ar, respirar um pouco de humanidade. Puxei de um cigarro na modorra da noite e pus-me a indagar do sentido da morte, já que a vida não fazia sentido ali.
Silêncio! É isso, o demolidor silêncio! Só ele pode regurgitar tudo isto, mandar para um buraco negro todas as angústias, todos os genocídios. Dessa espessura de silêncio que quebra as paixões, que atrai os animais e nos torna profundos, como o mar.
Precisei de atear a lenha do teu sorriso, partir em busca de uma fraga de sonho e ali, isolado das euforias e dos dias, permanecer em silêncio no teu corpo.

28 de setembro de 2007

Carta a Diogo Infante

Nas próximas semanas, vai morrer todos os dias. Como calcula, desejo-lhe sorte. Suponho que morrer não seja tarefa fácil, embora não tenha dados concretos para sustentar esta posição. Toda a gente me diz que morrerei também, um dia, mas não sei se acredite. Só porque todas as pessoas que viveram no mundo antes de mim acabaram por morrer, isso não quer dizer que eu morra também. Não sou supersticioso. Para dizer a verdade, não sei o que requer mais coragem: morrer, ou interpretar o Hamlet. Embora sejam duas actividades que se relacionem de mais que uma maneira, talvez encarnar o príncipe da Dinamarca seja mais arriscado do que, digamos, falecer. É que não há, no falecer, grandes hipóteses de errar. Falece-se, e pronto. Mas encarnar Hamlet pode dar-nos cabo da vida. Como a morte – lá está. Sócrates, ao que diz Platão, não só não tinha medo da morte como estava relativamente interessado em morrer. Dizia que, sendo a morte igual a um sono sem sonhos, só poderia ser bem-vinda. Parece que a Xantipa era uma esposa pavorosa e não é difícil imaginar as recriminações que lhe fazia. «Andaste outra vez na maiêutica com os teus amigos, meu vagabundo», «Já te disse para não filosofares na cama, que me deixas os lençóis cheios de sofismas». Enfim, o costume. Não admira que Sócrates estivesse ansioso por uma boa soneca, mesmo que fosse eterna. Hamlet não tem a mesma certeza de que a morte seja um sono sem sonhos. Receia que o undiscovered country possa ser um sono com sonhos terríveis. Se fosse apenas o sono sem sonhos de Sócrates, tudo seria mais simples para o príncipe dinamarquês.Curioso é que o herói de everyman (que, não por acaso, Philip Roth também põe a falar com um coveiro) parece estar tão certo como Sócrates de que a morte é um sono sem sonhos, mas isso já não lhe chega. Pelos vistos, para o homem moderno, a morte perdeu boa parte do seu encanto. A idade não perdoa, e a velhota também já não é o que era.Quanto a mim, só tenho uma hipótese: seja a morte o que for, o meu trabalho é fazer pouco dela. A minha missão é fazer aquilo que Hamlet sugere à caveira do bobo Yorick: «Vai procurar a minha senhora e diz-lhe que, por mais pintura que ponha no rosto, é a este estado que irá chegar. Fá-la rir disso. «Sempre acreditei que a vida será melhor para todos se conseguirmos rir disso.Boa sorte, por isso, para si e para mim.
Por Ricardo Araújo Pereira, in Jornal de Letras nº 965

27 de setembro de 2007

Rumba dos Inadaptados (ou a Morte do Jovem Contribuinte)

No quarto impecável, ao lado do corpo, a carta, com um último artigo a sair no jornal de domingo, no correio dos leitores, dizia assim: "Sou jovem, honesto, estudante, trabalho, sou pago: eu pago os impostos, as letras, os juros, da casa, dos móveis, dos livros na estante, dos discos, dos filmes, que hei-de fazer? Eu vou ao cinema, eu leio poemas, gosto de ler. Eu voto, eu escolho, eu olho nos olhos dos casos, dos factos, das coisas concretas: eu não tomo drogas, não sou alcoólico!
Eu estou preocupado e um pouco dorido ao ver que em várias revistas adultos, ministros, artistas, nas entrevistas da tv, demonstram que os jovens são brutos, boémios, incultos, autistas, não têm emprego, ou são arrivistas e mal educados: são tão depressivos, são tão destrutivos, que hei-de fazer? Com 23 anos já não faço planos: para quê fazer? Eu vivo da esperança na vaga mudança que nunca vai acontecer: eu não tomo drogas, não sou alcoólico!”.
Letra de JP Simões - Quinteto Tati - álbum "Exílio"
É assim a sina dos jovens (e dos menos jovens), num país anestesiado...

26 de setembro de 2007

CENDREV - Centro Dramático de Évora

Após o interregno de verão, retomamos o destaque feito às Companhias de teatro profissionais fora dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto. Tínhamos chegado ao Alentejo da última vez e à cidade de Portalegre. Agora, descemos para Évora, cidade património mundial, de grande beleza. E com o CENDREV, companhia que habita um fantástico teatro à Italiana, o Teatro Garcia de Resende, construído em 1892.
(na foto: galerias típicas dos teatros barrocos ou "à Italiana")
O CENDREV é uma estrutura que não é só a Companhia de Teatro, mas também uma escola profissional de teatro (já com batante renome e profissionais formados ali) e Companhia de Marionetas, os conhecidos Bonecos de Santo Aleixo, tipicamente alentejanos.
(na foto: os Bonecos ou Títeres de Santo Aleixo)
Além disso, o Teatro Garcia de Resende, ou Rezende (como está no pórtico original) recebe ainda outros espectáculos de todo o país e internacionais.
O CENDREV nasceu em 1975 e o objectivo foi o de trazer a cultura a todas as pessoas, num alentejo bastante carenciado de eventos e de associações culturais profissionais. Pode-se dizer que passados mais de 32 anos sobre a fundação, hoje é uma das mais importantes Companhias no país e fora dele, devido à qualidade e originalidade do trabalho, não só do CENDREV, mas também dos Bonecos de Santo Aleixo.
Além de tudo isto, editam uma revista de teatro , a Adágio, onde se fala das novidades teatrais pelo mundo fora, ao nível da encenação, da técnica do actor, além de recensões a espectáculos que fizeram sucesso. Depois esiste a BIME - Bienal de Marionetas de Évora, um festival de 2 em 2 anos só de marionetas, com a presença dos títeres de Santo Aleixo, naturalmente.
Desde 2003, fazem o "Encontro de Teatro Ibérico", uma espécie de Festival de teatro, mas também encontro de criadores, conferências sobre o teatro produzido na península ibérica.
Em cena neste momento, o CENDREV tem o espectáculo "Além as Estrelas São a Nossa Casa", de Abel Neves, esse grande dramaturgo transmontano (de Montalegre) com este conjunto de 32 textos de grande qualidade. Um texto que já vi, nomeadamente na Comuna, em Lisboa e que já encenei também, no âmbito dos cursos de teatro com jovens. A não perder, para quem estiver em Évora ou arredores. Devido à sua história, é necessário referir os nomes de Mário Barradas, José Russo, Isabel Bilou, Rosário Gonzaga, José Peixoto, José Carlos Faria e tantos outros nomes que estiveram ou estão ligados ao CENDREV. Actualmente é José Russo o Director Artístico. Mais informações, consultem o site http://www.cendrev.com/

Mya(n)mar a liberdade!

Indefesos. Sem poderem falar!
Vivem na ditadura repressiva.
São milhões. Países doentes
com déspotas dementes!
A liberdade dos povos é
um poema perene que fala
da necessidade da revolta!

25 de setembro de 2007

Hoje há Rugby e Rádio na noite!

Hoje é o grande dia da despedida de Portugal no mundial de rugby frente à Roménia, o jogo da vida dos Lobos! Mas vai ser extremamente difícil, já que 2 dos maiores jogadores se lesionaram e não podem jogar hoje, às 19 horas de Portugal, são eles Vasco Uva e Diogo Mateus. Temos pena!
Pelas 23 horas, na Antena 1, a rádio pública, o 2º programa da nova temporada de "Alma Nostra", de Carlos Magno e Carlos Amaral Dias, a não perder, a inteligência e agora numa toada mais íntima e nocturna, propícia à reflexão e partilha de saberes. A comunhão à volta da rádio está de volta!

24 de setembro de 2007

Maria Pernilla aparece nas audiências!

É verdade. Após este enorme esforço de redimensionamento, de credibilização do nosso querido MP, é com satisfação que aparecemos no Blogómetro (o medidor de audiências de blogs) na posição 1344!!! Vão a www.weblog.com.pt/portal/blogometro
Podem achar estranho, mas após a 1ª semana em que fizemos o registo no Blogómetro, seria de supor que estivessemos nas últimas posições, que correspondem ao lugar 2999. Ou seja, estamos um pouco acima do meio da tabela!! Nada mau, para quem agora ascendeu à 1ª divisão bloguista e com um orçamento e um plantel tão curtos! Mas apesar disso, este director que vos fala, prevê novidades em breve, com um reforço para as linhas avançadas da escrita. Agora o que precisamos é do vosso apoio, com a divulgação aos sócios para nos visitarem muito mais vezes e aos não-sócios para se tornarem urgentemente, pois vai valer a pena pertencer a este clube de grande futuro!!!
Estamos a prepara um Kilt novo sócio, uma prenda original para surpreender quem vos rodeia!
Queremos chegar ao milhão de sócios e ficar no fim desta temporada entre os 1000 mais da classificação geral ATP (Amigos Ternurentos da Pernilla)!
Vamos a eles agora! Até os blogamos!!!

Sangue, Sede e Poema

Estranho e circunspecto assassino!
Deambula pela noite em busca da sede,
sangue, genial criação dos espíritos.

Depois da ternura em que se enlevou,
mordisca o olor quente, saboreia-o.
Penetra no seu ser um prazer ímpar.

Acorda agora da noite! Mãos frias e limpas,
está de novo pronto a executar mais
tormentos nas breves linhas do poema!

21 de setembro de 2007

Dor Pretérita (Mais-Que-Perfeita)!

Muralha do pranto, sono leve e circunspecto,
os horrores da guerra na falácia de um beijo
Perene folha a deambular nas estradas da vida
auroras boreais, uma circumnavegação de vozes
que amparam os rostos úteis da caminhada.

Círculos de pó na língua afilada e comprida, coroa
de espinhos na memória dos opressores! Penugem
de silêncio na modorra do teu retorno, invisível paixão
dos lugares e das tormentas. Já basta de mar, de enjoo!
A neblina matinal é uma previsão lógica do tempo perdido.

Espoleta de canais e túrgidos frutos na benesse visual,
ocarina de barro no chão, calçada desfeita em sangue
que suga o medo, matéria dos teus sonhos diluídos em
néctar visceral e brando. Perto daquela casa há odor
de chumbo, gasóleo derramado na salsugem do teu desejo.

Que cidades e céus vislumbram a minha insónia?
Esta dor agonizada do mundo é a minha amnésia
consciente de te não ter, felicidade. No limbo da falésia
perscruto a sólida condição em que me encontro, desnorteado
da vida e dos clamores ruidosos da vitória dos iludidos!

19 de setembro de 2007

Vinte e Sinto!

Finalmente o ócio é um desbragado sinal de aviso!
Um ocaso lúdico na paisagem agreste. Cartas de marear
e uma propensão para o dislate. Abnego os sinais
convencionais e o ruído de fundo, lastro da solidão
mais que perfeita na nauseabunda fonte dos amores.

Castros e silvas, amoras de prazer, uma palidez
com exegese material. O racionalismo foi tomar
o seu chá das cinco. Eram as cinco chagas do mar
e uma virtude atirada ao estaleiro. Soldar o porão
dos afectos numa técnica de argonauta sóbrio.

Plenipotência dos teus pulmões. Um uivo temperado
a canela e uma voz de sonho. Mistérios das curvas
e contracurvas do teu sólido corpo. Contrafortes e
ameias onde te toco e sublimo o afago granítico.
Mãos vazias numa ternurenta lágrima de saudade.

Quarta parede do afecto, vislumbras ao longe a paisagem
sonora, o épico mandato do astro-rei, capturas a efémera
vida do ano bissexto numa máquina de derivar paixões.
Lembras-te agora do caminho, quase te perdeste na
traçada grande área da escolha entre o ir e o voltar.

Chutaste para o canto todos os teus males! Ligaste o motor
de busca e infernizaste o salão nobre da nave central.
Por cima da ressonância, um campo magnético fez-te acordar
do subliminar caso de vida ou morte. Cinco vezes cinco? São
contas a mais para os anos perdidos na suspensão dos sentidos!

18 de setembro de 2007

Alma Nostra na Antena 1 - Novo Horário

Já me esquecia de avisar que o Alma Nostra dos caríssimos Carlos Amaral Dias (Psicanalista) e Carlos Magno (Jornalista) retoma as suas emissões, agora num horário mais nobre e mais compatível para a audição calma e atenta. Às Terças-Feiras, das 23 à meia-noite, na Antena 1. Um programa onde se aprende muito com estes senhores de uma cultura rara nos dias de hoje!
Hoje, portanto, dia 18, pelas 23 horas na Antena 1 o primeiro programa da rentrée radiofónica!
Em todo o país se pode ouvir, não têm desculpa! Mais informo das frequências, para os menos ligados ao transístor que mudou o mundo. Ei-las:
Lisboa - 95.7 FM Coimbra - 94.9 Viseu - 88.2 FM Guarda - 94.7 FM Aveiro-106.7 FM
Porto - 96.7 FM Miranda do Douro - 90.3 FM Braga - 91.3 FM Faro - 97.6 FM
Marofa - 97.2 FM (Pinhel, Foz Côa, Freixo)
Mais informações vão a http://www.rtp.pt/

The Pillowman no Teatro Viriato - A não perder!

Um espectáculo de grandessíssima qualidade não só interpretativa, mas também dramatúrgica. Um enorme texto, de Martin McDonagh. Encenação de Tiago Guedes, um realizador de cinema que faz aqui a sua primeira encenação. Com João Pedro Vaz, Nuno Lopes, Gonçalo Waddington e um fabuloso Marco d'Almeida. A semana passada esteve aqui no Teatro Nacional de São João e a partir do dia 28 de Setembro em Viseu, no Teatro Viriato. Não percam! Um dos melhores espectáculos do ano! Um texto de um jovem dramaturgo Irlandês (nascido em 1970), que explora o humor negro, o sarcasmo e o mistério, tendo influências de dramaturgos como John Millington Synge, David Mamet e Harold Pinter. Como aperitivo, um excerto do texto de Ondrej Pilný - Checo, Professor e Director do Centro de Estudos Irlandeses da Faculdade de Artes de Praga (texto que podem consultar na íntegra no site http://www.tnsj.pt/).
"Entretenimento Grotesco"
[…] Situada num Estado totalitário fictício, provavelmente por volta de meados do século XX, a acção de The Pillowman gira em torno de um escritor que é detido pela polícia devido ao conteúdo das suas obras. Trata-se, uma vez mais, de uma comédia negra caracterizada por cenas de grande violência, linguagem grosseira e momentos de irresistível humor. À semelhança das anteriores peças de McDonagh, uma boa parte da força de The Pillowman reside nas bruscas e inesperadas reviravoltas do enredo, apresentado em alguns aspectos significativos como “um enigma sem solução” – chegamos ao fim da peça sem ficar a saber, por exemplo, se Michal, que sofre de uma deficiência mental, matou realmente as duas crianças, um acto pelo qual ele próprio acaba por ser morto pelo irmão, Katurian.

17 de setembro de 2007

A Orelha de Van Gogh

A ideia de entrar no manicómio foi sua. E a de sair também. O médico, amigo da família, aconselhou-o a adiar a decisão. Mas a torrente de acontecimentos que ditaram o seu destino já tinha começado. Estamos em 1890, mas para compreender o que realmente aconteceu, temos de recuar até 1888. Com vontade de criar uma comunidade de artistas, Van Gogh partiu para Arles, com Paul Gauguin. Os dois génios, cujo legado marcou profundamente a arte do séc XX, pesquisavam uma nova linguagem para a pintura, reinventando a lição impressionista. Foi aí que surgiram os primeiros indícios de perturbação mental. E o choque seria inevitável. Numa noite de breu, Van Gogh ameaçou Gauguin com uma faca, perseguindo-o em assustador estado de ansiedade. O precursor do simbolismo não teve com meias medidas e foi-se embora, seguindo mais tarde para o Taiti, onde encontrou o ambiente primordial que procurava. Num acto de desespero e culpa, Van Gogh cortou a parte inferior da sua orelha, que depois embrulhou numa folha de jornal e ofereceu a uma prostituta. Admitiu, então, ser internado. Passou dois anos num hospício em Saint-Rémy-de-Provence, onde pintou algumas das suas obras-primas. Em Maio de 1890, sentindo-se recuperado, quis sair. Com receio de o deixar sozinho, o irmão Theo, fiel depositário dos seus sonhos e angústias, sugeriu-lhe uma temporada em Auvers-sur-Oise. Só não sabia que 70 dias depois Van Gogh se suicidaria. Um tiro no peito deixou-o em agonia durante dois dias, até morrer a 29 de Julho. Olhando para os trabalhos dessa época, agora reunidos numa exposição no Museo Thyssen-Bornemisza, em Madrid (patente até 16 de Setembro), é-me impossível encontrar um prenúncio do que estava para vir. Os verdes, ocres e amarelos que dominam os quadros são claros e vibrantes. As pinceladas, vigorosas. Apenas «o ritmo frenético destas últimas semanas sugere um combate furioso contra o tempo, como se o artista pressentisse que tinha os dias contados», insinua Guilherme Solana no catálogo da mostra. Nessas 62 pinturas e 33 desenhos, Van Gogh assinou o seu testamento. Trágico e sublime.

Por Luís Ricardo Duarte in Jornal de Letras nº 964

14 de setembro de 2007

A Haka Neozelandeza!

Antecipando o jogo de Rugby entre Portugal e a Nova Zelândia, amanhã pelas 12 horas portuguesas, venho-vos falar da Haka, uma dança guerreira do povo Maori, que serve de intimidação ao adversário e ao mesmo tempo para dar força aos All-Blacks (nome dado à equipa Neozelandeza, a melhor do mundo neste desporto). Por ser tão singular esta performance dos jogadores a saliento aqui, para que quem possa ver em directo, ou depois nos noticiários, atente bem nesse espectáculo que é um acontecimento de per si. Como curiosidade, a dança feita em todos os jogos é denominada de Ka Mate. Em Agosto de 2005, num jogo com a África do Sul, eles decidiram mudar a Haka original para uma outra, a Kapa o Pango que retrata uma Nova-Zelândia mais contemporânea, retratando as influências das culturas das tribos da Polinésia. No entanto, esta só é feita em ocasiões especiais, como jogos muito importantes (talvez na final), ou em jogos com países vizinhos e rivais (Austrália, Samoa, Tonga). Ou seja, neste jogo vamos ver e ouvir a Haka Ka Mate, a original. Isto porque a outra, a Kapa o Pango é controversa, pois há um momento da coreografia em que eles põem as unhas sobre o pescoço e de punho fechado arrastam as mãos, simulando a morte (do adversário) por degolação!
Para verem vídeos de Hakas vão a http://www.allblacks.com/ e para saberem o significado da letra da Haka Ka Mate (tem o original - em Maori e traduzido em baixo para Inglês).
Será que o Scolari anda a aprender técnicas Maoris com os Neozelandezes?

13 de setembro de 2007

Passeando na Orla do Sonho

Espada. Insalubre memória das guerras
O Outono fez-se angústia no mar calmo da madrugada
Um final feliz com ondas de paixão. Uma escada em caracol

No posfácio de um beijo, a modorra do fio do horizonte
Freixo- uma ponte, uma rua mal iluminada, um país- Terra!
Gente anichada na bruma de um rio, névoas de prazer

No porte do teu olhar a escrita, dura e mecânica
Nas mãos um refúgio de carinho, à Cinta um brasão ao sol tisnado:
- El Rei D. Dinis aqui fez cousas nobres e mui valiosas!

E depois partiu! Um sufragado desejo de sucesso
Na melancolia doce do abraço ficou o poeta
em selénicas divagações e um ror de sonhos...

12 de setembro de 2007

Falando com o Douro Internacional...

Douro és um mistério que não reconheces a tua verdadeira imagem.
O teu leito reflecte sensualidade – olhos brilhantes, boca ávida, olhar provocante.
Entregas-te a cada passo à natureza envolvente, abraçando-a ferozmente.
E todo esse desejo que recalcas no teu íntimo transforma-se em sensações de liberdade, descoberta, aventura e fascínio.
Tens domínio de tudo – aves, peixes, mamíferos, répteis, xisto, granito, vales, montes, cultivos, giestas, gentes...
Ao navegar nas tuas águas sente-se a perfeição artística das mãos de Deus, que te criaram e desenharam originando uma simbiose única e harmoniosa entre terra, ar água e fogo.
Rio Douro: És Deus. És Sol. És Vida. És energia. Omnipotente, Omnipresente e Omnisciente. Absoluto. Mas ... Humilde. Reconheces o teu valor mas chegas a envergonhares-te disso.
Não tens prepotência, arrogância, altivez e narcisismo. Não. Aperreias tudo isso.
És um halo selvagem com gestos bruscos e desordenados que acolhem com sensibilidade, bondade, gratidão e emoção toda a vida que se manifesta ao teu redor.
Ao deslizar na tua magnificência, estamos nós, comuns dos mortais, condenados a olharmos dois países onde impera o mais enigmático dos sentimentos - O Amor- não fosses tu, rio Douro, o livro onde reina a memória histórica que atiça a nossa curiosidade.
Um corpo de mulher escondido que se vai despindo, acariciando e saboreando com intensidade e desejo... Momento a momento... Devagar, sem pressas.
Esse amor que anda misturado com o ódio, a raiva, o desapego. Esse amor que causou guerras, batalhas, lutas, traições, sangue, morte... Esse amor vincou a fronteira natural que és Tu, Douro. Originaste o corte, a ruptura, os limites, a separação.
Mas... Estiveste sempre presente como união. União por vezes não assumida, oculta, tímida. Mas estiveste sempre a marcar a junção de Portugal e Espanha como sendo entrelaçadas com um nó gigante de lodão, impossível de quebrar.
Duas mãos que se ajudam, se apoiam se agarram com garra.
Gosto de ver-te a abrires-te para o todo da natureza, enfeitando-te de amendoeiras, oliveiras, pomares, vinhas...
Não foste feito para o requinte, o chique, a vaidade, a ostentação. Foste feito para o agreste, o selvagem, o inacessível, para o povo, o trabalho duro, a fome, a pobreza...
Todo o teu corpo desprende- se numa bela energia, uma impaciência, uma avidez de viver. Jurei então comigo que tenho mesmo de desvendar o teu mistério e quebrar a tua resistência, desse por onde desse.
Nunca fui muito dotada para seduzir quem me resistisse... Mas não vou desistir desta luta. Porque tenho a certeza que vale a pena. Vai ser sempre uma nova descoberta de muito valor.
A atmosfera que respiro em ti, Douro, fascina-me e perturba-me.
Nos ares, a liberdade e imponência das variadas aves emociona- me...
Tens um ar de magnífico felino digno de ser capturado. Sei que nunca te vou conseguir domar. Tenho que o aceitar. Eu é que te invadi sem pedir licença.
Se há instantes em que fico “assustada”, existem momentos que me falas com uma voz doce e envolvente. Contas-me as tuas viagens, as tuas lendas, as tuas crenças, os teus segredos... É emocionante ver-te, Douro, por vezes tão entregue e tão abandonado.
É impossível não focar sobre ti um olhar maravilhado.
- Douro: Posso nunca te conhecer mas agradeço-te por me quereres conhecer.
É uma Honra. Fui Abençoada.
Por Isabel Maria Sapage Frade, in Revista Freyxeno, Agosto de 2007

Portugal bem tentou, mas...

... a Grécia continua "on fire". Louve-se a boa prestação da selecção nacional no EuroBasket e a evolução que registou nos últimos anos.

11 de setembro de 2007

Onde é que você estava no 11 de Setembro?

- O quê, ontem?
- Não! Em 2001!
- Ah, isso... atravessava a pé a ponte de Santa Clara para ir trabalhar – começara há pouco a trabalhar num asilo de alienados - quando apareceu o meu colega esbaforido a anunciar que tinham derrubado as Torres Gémeas, e eu imediatamente
- Isso é inacreditável! O Almirante e o Tim Duncan lesionaram-se ao mesmo tempo?

Explicou-me pacientemente que não, tratava-se antes de um atentado em pleno World Trade Center por um grupo terrorista chamado Al-Qaeda. Era o dia 11 de Setembro, e apercebi-me do requinte de malvadez dos terroristas: 11 por causa da forma dos arranha-céus, e Setembro por causa daquela música do José Alberto Reis “Setembro é o mês da saudade, e as memórias que teço, não esqueço” ou coisa que o valha.

Lá seguimos o caminho, ele contando-me o pouco que (ainda) se sabia acerca do ocorrido, eu ouvindo atentamente até que chegámos ao Asilo, os alienados não falavam de outra coisa, a Teresa assim para o atarantada, dias antes viera ter connosco ainda a lacrimejar

(ainda não tinha chegado à fase do “Sabe, tenho de lhe confessar que já não aguento mais aturar aquelas cabras!", deixando-me sem resposta, "passou-se" pensei, mas isto foi uns meses depois, não se pode responsabilizar o 11 do 9 por tudo)

Mas aquilo lá no trabalho foi rápido, a verdadeira acção estava para chegar, ou melhor já estava no 7A (ui que bom!), quando lá cheguei – “honey, I`m home!”; estava lá quase toda a gente, todos literalmente excitados com o ocorrido – nas várias formas de excitação possíveis, até o Boris ladrava incessantemente. A TV bombardeava-nos – por assim dizer - com imagens de puro terror, mas ao mesmo tempo fortemente cinematográficas, e toda a gente cirandava pelo pátio-quintal a comentar. Estava lá o Adolf, a contorcer os lábios e as sobrancelhas, enquanto disparava os habituais "os políticos são todos uns merrrdas", e de vez em quando sorria, olhávamos a TV estupefactos, a absorver tudo aquilo, até que me fartei da ladainha dos comentadores e alguém foi buscar uma velha cassete; daí a nada ouvia-se "Rita Hot Pussy" dos Lulu Blind ou "On Our Way to Fatima" dos The Great Lesbian Show", a banda sonora perfeita para um final de tarde de Verão com imagens que pareciam anunciar o final dos tempos. Andava por ali também o João Pinto, que repetia: "Que caga, meu!". O Paulo de Tomar olhava o televisor antes de este ser silenciado e dizia: "Mas quando? Mas quando?!" e nós calados, respeitando o seu estado, até que momentos depois, completava: "Mas quando é que te calas?"

Por lá andava também o Alhinho, que citava Ratzel a cada dois minutos: "a guerra é a arte de passear a fronteira pelo território vizinho!" e nós: "Coitado, vejam o que a Antropologia faz a uma pessoa...", algo condoídos. Até que vi o Sérgio, era o que parecia mais calmo, afastado do turbilhão de emoções e patetices. Perguntei-lhe: "Então, pá? Que me dizes de tudo isto?" E ele: "Doctor, isto é dramático" e meneava a cabeça. Pouco depois chamou-me de parte: "Olha lá, podes emprestar-me o teu quarto para esta noite?"

Entretanto chegou o Toni, que logo foi rodeado por todos, cada um a querer ser o primeiro a contar as novidades. Teve de levantar a voz e afastar-nos com os braços: "Vão com calma, já sei de tudo! Vi há pouco na televisão. Já não me excitava assim desde que ganhei a Liga dos Campeões com o Newcastle", e as olheiras dele denunciavam a noitada que passara a jogar CM - o Toni ganhou o nosso respeito desde que ganhou duas ligas holandesas com o Ajax no espaço de 24 horas. Pouco depois chegou também o ZéManel, que dizia: "Já viram bem aquilo? Quem diria que uma coisa destas viria a acontecer..." Assentimos com a cabeça, e ele prosseguiu: "Já imaginaram a quantidade de mulheres ali naquele sítio à procura de um ombro amigo para desabafarem, a quem contar as mágoas? Tsk, tsk..." E, abanando a cabeça, dirigiu-se à sala.

O último a chegar foi o Vladivostok. Como é óbvio, já sabia de tudo, e após as palavras de circunstância: "Pá, hoje esteve uma caloraça!" chamei-o a um canto. "Então, já falaste com os contactos da Alexanderplatz?" e ele "Não, fiquei sem bateria, estava a tentar ligar quando vinha no 46 e a chamada caiu." "Então terei de ser eu a fazê-lo, suponho." "É, parece que sim. Quanto antes lhes ligarmos melhor."

Só que não tinha saldo no telemoque, por isso tive de ligar ao meu pai e pedir-lhe para mo carregar. "Podem ser 2 contos?" ""2 contos? Precisava para aí de dez!" "Dez? Muito falas tu! Ainda estou para saber com quem falas, que tanto dinheiro gastas". Mas lá a cedeu, e daí a minutos falei rapidamente com os berlinenses, o que não serviu de muito, pois já estavam bêbados (ou ainda estavam, com eles nunca dava para saber). Então o Vlad sugeriu que ligasse aos norte-coreanos. Fiquei a espumar de raiva, mas lá teve de ser. Eles não acreditavam no que estava a acontecer, e após a chamada comentámos: "Bolas, aqueles tipos são mesmo cépticos!" E o Vladivostok riu com gosto, e respondeu: "Eles são é doidos! Vê lá que eles continuam a acreditar que a Lady Di continua viva, que aquilo foi tudo uma encenação e ela é empregada de mesa em Venice Beach, usa agora o nome de Camille Apara-Bolas. E eles dizem ter informações em como ela fez um casting para um filme do David Lynch!" Aquilo foi demais! Rimos a bandeiras despregadas, o que despertou a atenção dos nossos colegas. "Estamos a ter uma catarse", dissemos embaraçados.

Esta frase como que nos despertou para a realidade, e subitamente todos ficámos pensativos e angustiados. Apercebemo-nos que o mundo poderia estar na iminência de um conflito global, e a nossa inquietação era cada vez maior. O Fuji até prometeu que a partir daí passaria a desfazer a barba todos os dias. E o Alhinho esteve perto de choramingar quando disse que tinha medo de ter de ir à tropa. Dissemos-lhe: "À tropa? Pois se tu nem barba tens? Nem te deixavam entrar no quartel!" Replicou, ofendido e falando depressa: "Pois não foi isso que me disseram neste Verão, nos Palheiros da Tocha!" E nós, subitamente curiosos: "O que foi? Conta lá!" Muito insistimos, mas ele baixou os olhos e repetiu: "Não quero falar sobre isso. Não vou falar mais sobre isso."

Nisto ouvimos o barulho de passos na escada de ferro em caracol. Não restavam dúvidas: era a Mrs. Pity que vinha ter connosco, no seu andar arrastado. Encontrou-nos inquietos e logo abriu os braços: "Venham cá, meninos, não tenham medo! Agora que o Tio Sam não vos pode albergar debaixo da sua cartola, vinde! Deixem que vos conforte no abraço caloroso do meu seio!". E lá fomos, dois de cada vez, quais crianças assustadas, tomar conforto no seu volumoso regaço. Alguns de nós - não direi quem - soluçavam.

Depois disso, já todos estávamos mais calmos. A Mrs. Pity retornou aos seus aposentos e fomos jogar matraquilhos. Foi uma bela jogatana, e o João Pinto no final rematou: "Que caaaaga, meu!"

informação assaz importante

A tradução e legendagem da série "curb your enthusiasm", que é como quem diz "Calma, Larry", é assegurada por Dulce Gásio.

9 de setembro de 2007

é dreda ser angolano

Da banda sonora de "É dreda ser angolano", um documentário com estreia prevista no final do ano, eis dois temas que retratam a "cena" do hip-hop angolano.

conjunto ngonguenha - é dreda ser angolano


Mc K - Atrás do Prejuizo
"ainda te espetam uma faca no pescoço / são doze e meia, está na hora do almoço"



A reter.

7 de setembro de 2007

I was the king, I really was the king

Eduardo Prado Coelho...
Luciano Pavarotti...

A esfera da cultura&artes ficou mais magra.

5 de setembro de 2007

Uma Sociedade Asséptica!

Pois é. Vivemos cada vez mais numa sociedade asséptica! Onde os miúdos já não podem brincar nas ruas, por causa dos ladrões, pedófilos e o Vale Azevedo! Mas em casa também já não podem brincar, devido ao chumbo nos brinquedos, ao alumínio nas águas, aos pesticidas no leite, à floribella!!!
Por outro lado, as ruas também estão cada vez mais assépticas, graças à União Europeia, senão vejamos:
- As mercearias já não podem ser feitas de madeira!!!, as prateleiras têm de ser incolores, inodoras, não podem criar bolores, não ter moscas a pousar sobre elas. O mesmo se passa com as colheres de pau, que foram banidas de todos os estabelecimentos hoteleiros e de restauração. O mesmo se passa com o nosso passado:
- Qualquer edifício que esteja a ficar rasurado, velho, é deitado abaixo, mesmo que tenha 500 anos de vida! O que interessa é construir novos mamarrachos, coisas coloridas para alegrar o povo (estilo fontes luminosas), que ao fim de uma dezena de anos (se tanto), estão cheios de fissuras, a necessitar de obras urgentes, ou então... o camartelo!
Posto isto, leva-me à reflexão sobre esta sociedade em que a Educação e a Cultura vão-se esvaindo por esse estreito rio da necessidade. Sem Educação aos novos e velhos do que temos de preservar, conservar, mimar, respeitar e respirar, vamos construindo um país atrasado, apesar da aparente vitalidade que dá a velocidade stresssante das cidades e das decisões. Tudo é feito rapidamente, sem pensar muito a fundo nas questões e assim, vamos tropeçando na azáfama de um quotidiano insosso, sem uma marca forte que nos cative, emocione, que perdure.
Isto tem tudo a ver também com a forma como não respeitamos as gerações mais velhas, que construíram para nós (mesmo que nem sempre da melhor forma), mas esse desrespeito pelo passado, pelo que foi fecundo e vital é deitado borda fora para o campo do esquecimento, da morte lenta e sofrida, de um esvaziar de corpo e emoção. E um corpo sem emoção é desprovido de vida! A forma como não cuidamos do nosso passado nas artes, na arquitectura, na educação, na saúde, nas memórias, nas velhas profissões, são sintomas que geram um sinal que as coisas não estão bem e que é preciso agir, sermos actores da mudança (de mentalidades, de sinergias) em suma, dar sinais de vida!
Ariel Sharon Tate propõe que, na Liga espanhola de futebol, não sejam doravante contabilizados os remates à baliza ("tiros a puerta").

Activistas destroem carros transgénicos em Fernão Ferro

_ notícia geneticamente modificada_

Oitenta e dois activistas contra os automóveis geneticamente modificados (AGM) vandalizaram anteontem um stand automóvel de carros transgénicos na localidade de Fernão Ferro, distrito de Setúbal.
Esta intervenção foi levada a cabo pelo grupo Azul Piedade, uma facção extremista da organização proto-ambientalista Intifada Madrinha, a que se juntaram alguns curiosos que estavam no local a admirar as viaturas e se sentiram atraídos pela “perspectiva de violência gratuita”, segundo as declarações de um popular ouvido no local à agência Tusa.

Um dos dois sócios proprietários do espaço, de 34 anos, não escondeu à Tusa a "indignação" pelo ocorrido.
"Não sei quando poderei reabrir o stander. Ainda estou em estado de choque", disse-nos. “Os responsáveis por esta barbárie deveriam ser perseguidos e exemplarmente condenados.” Depois de asseverar à Tusa que o estabelecimento comercial se encontrava “dentro da mais pura legalidade”, o proprietário, visivelmente consternado, mostrou uma foto de um dos AGM que tinha à venda no stand.



“Esses indivíduos tinham a cara tapada, mas lembro-me de um deles ter dito que ia usar a cobertura deste carocha na tenda de campismo. Disse que ia deixar a tenda fechada e coberta pela estrutura, e já não tinha medo de deixar a erva lá dentro.”

Os activistas exibiram cartazes com dizeres como "Transgénicos é mau”, “Tuning = crime ambiental” ou "Ó madrinha, quero fazer cocó!". Meia hora depois, foram expulsos do local por um grupo de fãs dos Guns`n`Roses (GNR) que, alertados por populares, se dirigiram ao local vindos da Praia do Meco.

"O que se passou foi uma vergonha!" – foram as palavras de Fahrid de Almeida, um transeunte que assistiu à acção. “Como se não bastasse, eles são incorentes. Gritavam palavras de ordem contra o tuning e os transgénicos, mas vinham a ouvir trance nos carros”, afirmou ainda.

A agência Tusa tentou entrar em contacto com responsáveis da Intifada Madrinha, que se escusaram a conceder entrevista, afirmando todavia "estarem de luto até ao extermínio total dos carros transgénicos". Ainda assim, enviaram-nos uma gravação de uma das suas reuniões*:



*vídeo: Justice vs Simian - we are your friends
(remistura de Simian -Never be alone)


Os carros transgénicos, expressão popular que designa os AGM, constituem uma das maiores fontes de preocupação da população portuguesa. Numa sondagem realizada há 2 meses pela Universidade Escanchada, estes surgem em 3º lugar na lista, logo a seguir ao desemprego e ao regresso de José Cid aos palcos.

As mais altas instâncias do país não deixaram de se pronunciar sobre o ocorrido, tendo dado conta da preocupação que os assola.

1 de setembro de 2007

Setembro!

-Era Manhã, dizia ele, naquele gesto fraterno da despedida, Era Manhã! Era o começo de um novo tempo, de sais nos frutos e de mansas corridas no nevoeiro da estação. Vinham às brandas os garranos selvagens e o sol fazia-se de menos gente no seu estiolar. Que retemperadora paz nos moinhos de água doce e um caldo verde à tardinha! Passeando pela aldeia, lá vinha Ti Jaquim com os seus Barrosãos, largos chifres espetados ao céu.
- É manhã! É manhã de um Setembro luminoso e é a hora das videiras jorrarem o seu sangue!
É verdade, Ti Jaquim! Hora de vindimas e o sangue nos tonéis! Sumo consagrado para os Homens!
- Seja, pois! disse Ti Jaquim. O que me vale é que é Setembro! Torna o silêncio à minha casa!