26 de outubro de 2006

Animação (a bem da nação)

De 26 a 28 de Outubro, o Novo Ciclo ACERT recebe a Festa Mundial da Animação.
(clica na imagem e é vê-la a aumentar...)

A ACERT na rota da animação!

(ou a animação na rota da ACERT!)

Não à pusilanimidade, sim à animação!

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24 de outubro de 2006

Três Movimentos

Estático.
O Passado
Navegante
na utopia possível.

Nevoeiros concretos
no abismo da morte

Correria.
O Futuro
Autopsiado
na regressão inominável.

Buracos Negros
no planalto da vida

Desencontro.
O Presente
Regurgitado
no umbigo interminável.

Auroras Levianas
no mar das certezas.

18 de outubro de 2006

Os Humanos Teatros

Apetece-me postar. Postar sobre postulados.
Postar sobre a vida. Gostar da vida. Não ter medo da morte.
Amar a arte. Arte do efémero, o teatro.
Ficar preso na corrente. Prender-se! Atar os pulsos numa tensão nervosa.
A pulsão de escrever. A pulsão de comunicar. Por isso ficar preso! Prender-se, refugiar-se num teatro, barricar-se. Rivalizamos com os Rivolis da nossa vida. Porque nos fazem morrer de inveja. Um teatro é bem mais bonito que nós! Um edifício galante, belo. Como a antiguidade pode ser bela! Já pensaram nisto? A beleza não é só para a juventude! É mais belo o Teatro Nacional Dona Maria II, ou o São João, ou o Tivoli, ou Rivoli, do que um CCB. É verdade! Fechar-se num teatro, conviver com ele, aprender com as suas memórias e histórias, faz todo o sentido. Temos muito a aprender com os teatros, podemos aprender muito nos teatros. Os teatros são sábios que não têm medo de falar sobre tudo aquilo que sabem, não são egoístas, são humanistas, acolhem-nos bem, desnudam-se, falam de si sem preconceitos.
Apetece-me casar com um teatro, sei que ele me será sempre fiel, que não se irá embora, que me vai continuar a contar imensas estórias, nunca se farta de nós. Nós sim, por vezes fartamo-nos deles, não os vamos visitar, mesmo quando estão doentes, à beira da falência, ou quando alguém os agride. O Rivoli foi agredido, tem sido agredido. Há quem não goste dos teatros, há homens maus que os detestam, que os querem vender, dá-los a quem pode prostituí-los, vendê-los ao desbarato, lucrar com os teatros. Em vez de contar histórias, querem fazê-lo empresa, com gente ávida de dinheiro, de casa cheia de casacas bonitas e opulentas, mas de cabeças ocas, sujas, pequenas cabeças, grandes vestimentas. Investimentas, Investimos no amor, os teatros investem o seu amor aos homens, e não podem ser os homens a dar amor à força aos teatros. Que a relação parta sempre da beleza, da experiência de vida. Instalar-se confortavelmente num teatro, fazer dela a casa dos sonhos, faz parte de quem ama o teatro, os teatros. Quem trabalha muito, sua muito, para sonhar com aquele amor imposível, viver naquele teatro, nem que seja por breves momentos, mas de grande felicidade. Tenho tantos sonhos com o Rivoli, com os Teatros Nacionais, quero tanto viver com ele, contactar com a sua madeira, o seu soalho, as suas pedras, andar sobre ele, adormecer com ele, dormir com ele, acordar com ele, os teatros são o amor intenso dos artistas. Por isso eles dormem no Rivoli. Ele está agradecido, ele está feliz por lhe terem dado finalmente, a importância que devia ter sempre. Que tenhas uma vida longa Rivoli, que tenham todos vidas longas, que não os deixem levar para a prostituição, que façam aquilo que sempre fizeram e que mais amam: contar estórias aos homens sensíveis, abraçar o colectivo dos espectadores, num fraterno sorriso de felicidade!

Teatro, Espectáculo, Vida!

Espectacular, de espectáculo, de espectare, de esperar algo. A construção multiforme de algo criativo, esperar sempre criar coisas novas. Um cachecol de ideias, de utopias. Pijamas de sonho, noites de chuva intensa. Keats, Yeats, Beats, a Beat Generation, Pela estrada Fora rumo ao desconhecido. criar é isto, é arriscar deixar o sangue no asfalto. E a experiência, o que se leu, o que se viu, o que se vive intensamente diariamente. Mão Morta, pelo sangue no asfalto, criação multiforme, isto é o que ando a estudar: Kantor, tadeusz Kantor, Dramaturgo e encenador polaco. O construtivismo de Kantor e Meyerhold, as marionetas humanas, a super-marioneta de Gordon Craig, a luz e os cenários de Adolphe Appia, tudo isto passa por nós nesta escola, é-nos ensinado. O resto vem nos livros, nas bibliotecas, é preciso ir à procura, trabalhar, investigar, suar. O Talento???? Por si só, o talento dá-nos 2, 3 anos de euforia, deslumbramento. Só perdura na arte quem trabalha afincadamente, sua abundantemente, chora compulsivamente quando tem de ser, ama desbragadamente o seu trabalho. Arte? Só como ponto de chegada, não como postulado inicial, "eu faço arte, sou um génio!" Tretas! Tão enganados andam muitos televisionáveis, actores do momento, do efémero social. Não sabem o trabalho que dá o teatro, não sabem aquilo que ainda não sabem (e talvez nunca o saberão). Não é um porte altivo que fala. É alguém que quer alertar para quem não sabe, quem nunca pensou ou nunca se apercebeu das nossas dúvidas, dificuldades, e muito trabalho, evolução, numa profissão em que recomeça-se sempre do zero a cada dia, a cada nova produção.Não me falem em carreira: Carreiras têm os autocarros! Como disse Raúl Solnado: "O Actor é o operário da arte". De resto, teatro, música, poesia, é apenas desejo de expressão, de comunicação intensa, de olhares trocados, de um sorriso, de um abraço.Porque nós somos feitos de carne e osso, não somos máquinas, não somos a Máquina Hamlet de Heiner Müller, precisamos do amor, do calor, do frio do espectador, daquele que espera, não de um modo passivo, mas daquele que espera ver-se reconhecido, encontrado neste mundo e nesta sociedade. Afinal, pergunta sacramental: Que andamos nós cá a fazer? Que sentido faz isto tudo. Que sentido faço eu? Farei sentido? Terei sentido? Que sentidos uso para viver? O olhar, disse alguém, "O olhar é o mais intelectual dos sentidos". Porque é com eles que podemos abraçar o mundo! A opsis, é para aquilo que trabalha o teatro, a observação do espectador, aquilo que ele vê, ouve, cheira, toca, saboreia, tudo para a sua vontade de descoberta, aprendizagem, conhecimento. Teatro feito para ver actores, para os actores se verem a si mesmos, não presta, lixo! Teatro é colectivo, teatro é inclusão, é revolução, é partilha, é memória, é história, são estórias de vida, morte, amor, pecado, renúncia, dor, solidão, em suma, é vida!
Chega!

13 de outubro de 2006

Utopias Inimitáveis

Frágeis recordações
Militância Consumida
Os desvarios da juventude
E a dura droga da ausência

Palmilhámos os azuis celestes
A onírica causalidade do infinito
Os estertores da monotonia
Na solene fuga das prisões

Triunfos e inglórias teses
Paroxismos e anagramas
O epitélio das paixões urbanas
na senda triste do limite periférico

Encontros e perspectivas
nas diáfanas torrentes
nas balaustradas da morte
O vazio, o Eco original

As centelhas de génio
nas melífluas medusas
do alto mar, com as urticantes
membranas do devir afectuoso

Caudaloso naufrágio
de emoções, enseada
abrupta e rumorejante
Os painéis pintados de dor

Frugal indecência
do maremoto infiel
Postigos ausentes
na enxurrada de ideias

Oxímoros prestáveis
às autistas recordações
Passeando o desejo
pela brisa da tarde

O Ocaso frenético
O Frenesi inusitado
Prescrição assintomática
sem causa nem cura

Remédios do medo
modesto silvo
de inocência perdida
no altar-mor da saudade!

11 de outubro de 2006

intellectualize our madness

"Afigura-se-me, por vezes, que há só duas espécies de gente que vive fora do que E. E. Cummings definiu como "este mundo a que chamamos nosso": os doidos e os artistas. Evidentemente que há ainda os que não são artistas profissionais e os que não estão internados em manicómios mas que possuem suficiente número de elementos mágicos de loucura e imaginação capazes de lhes permitir também ser criaturas à margem do "mundo a que chamamos nosso" para empreenderem ou aceitarem dele uma visão exterior."

Tennessee Williams, prefácio de "Reflexions in a Golden Eye", de Carson McCullers

4 de outubro de 2006

Entrada Livre

visita breve
desabrigada

Palcos novos
por conhecer

transumância
de lugares

olhares ternos
delicados

Augustas fontes
alcalinas

Pretéritos
presentes

Ocaso e acidente
Uma para o caminho

Florestas ameaçadas
chá no deserto

podridão, ferrugem
rostos consagrados

Teatro invisível
espuma dos dias

Submersa inocência
Devir fragmentado

Postulados Ficcionais
Luz, cor, Atracção!

2 de outubro de 2006

Oh no! comedy / Oh! no comedy

A notícia foi esta: o cancelamento da ópera "Idomeneo" de Mozart na Ópera Alemã de Berlim, por receios da reacção da comunidade islâmica residente na Alemanha. Tudo porque numa das cenas, surgem numa cadeira as cabeças decepadas de Poseidon, deus grego dos mares, Jesus Cristo, Buda e Maomé. Depois de protestos face a esta medida tomada pela direcção da OAB, os representantes da comunidade islâmica na Alemanha apelaram à reposição da obra, tendo manifestado a intenção de assistir ao espectáculo (sem levarem mochilas).

Ora, este desaguisado poderia facilmente ter sido evitado, se o encenador desta versão, Hans Neuenfels, tem optado por estabelecer um diálogo franco, mas cordato, entre as quatro cabeças (sei lá, contar anedotas ou dissertar sobre a dança contemporânea em Portugal), no que seria um passo quiçá decisivo para o entendimento entre diferentes culturas. Calcula-se que, por motivos meramente artísticos, se tenha protestado devido ao tamanho excessivo da cabeça de Buda face às restantes. O que interesessa é que tudo parece ter regressado à normalidade, o que é de saudar, depois dos episódios dos cartoons dinamarqueses e da citação de Bento XVI. É relativamente fácil levar um islâmico a agir em nome da fé, já que lhes prometem 70 virgens no paraíso. O que não lhes dizem é que, quando a primeira é desflorada, passam a ficar sessenta e nove.

Já a Bíblia apresenta o "episódio" em que Jesus diz ao bom ladrão, arrependido à hora da morte: "Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso". Mas, acerca da violência, os cristãos já devem pensar: "Mas porque é que Cristo se lembrou de dizer que se devia oferecer a outra face? Agora é o que se vê!" Para além disso, uma vez respondeu a um apóstolo que não aos inimigos não se devia perdoar sete vezes, mas setenta vezes sete. Ora, isto é uma maneira de terminar uma conversa - o apóstolo ficou a pensar "ora, setenta vezes sete, deixa cá ver, isso dá... ui, é muito mais que... é muito!".

Já se antevia, portanto, mais um daqueles choques de civilizações, com todos a queixarem-se de estarem a ser alvos de uma cabala - e não falo da cabala do judaísmo, essa é uma cabala boa. A Madonna converteu-se-lhe - a Madonna é uma espécie de unidade monetária do mundo da pop, leva a vida de conversão em conversão. Os judeus entraram há pouco tempo no ano do Hojh Há-Xanax, o que é bom, pois isso deixa geralmente as pessoas bem dispostas. Eles têm um pacto eterno com Deus, mas escrevem a palavra assim: "D-us" (já vi algumas palavras escritas deste modo no teletexto da SIC).

Há aqueles que não acreditam na existência de entidades divinas: os ateus. O ateísmo tem a vantagem de não ter de se conhecer um ror de nomes, teorias, parábolas, preces, etc. Em contrapartida, pode gerar graves embaraços na vida social. Por exemplo, quando se diz a uma ateu:
- Então até amanhã, Senhor Doutor, se Deus quiser!
obterá como resposta um seco
-Até amanhã.
e fica a pessoa a pensar: "vejam-me só este emproado, para responder assim mais valia fingir que não me ouviu, parece que olha as pessoas de cima. Há-de ir para a cama descalço!"
Outro exemplo de diálogo entre uma crente e uma ateia:
- Então, Dona Marta, como está o seu marido?
- Ó Alzira, ele está bastante melhor, graças a Deus!
- Ainda bem.
E lá fica a patroa a pensar: "Esta Alzira está cada vez mais grosseira, tenho de ver se arranjo outra empregada. Mas uma que não me roube coisas, como a anterior. Bem, deixa-me cá perguntar ao Aníbal se já comprou os bilhetes para a ópera, logo à noite".

Viram o concerto da Meno Pausini?





Foi na 2:, no Sábado à noite.
Espero, muito sinceramente, que não.